O devir-mulher DA policial civil
Dirijo-me a todas as mulheres que integram a Polícia Civil do Estado do Piauí: Delegadas, Agentes, Escrivãs, Peritas e Auxiliares, especialmente as que se dedicam continuamente à persecução criminal relacionada à mulher, no caso as Delegacias de Proteção à Mulher, de Proteção às Crianças e Adolescentes e de Proteção ao Idoso.
Essa mulher policial, adentrando num universo outrora reservado ao homem, como é o caso da polícia, provoca o descongelamento da instituição policial, desmistificando comportamentos estereotipados da condição feminina estabelecida pelos homens, para transformá-lo num ambiente aberto aos devires da subjetividade humana.
Assim é que, a polícia feminina, não pretendendo ajustar-se a nenhuma normativa de gênero, ou à preocupação de ser toda mulher segundo um modelo pré-estabelecido, assume um ideal proposto por ela mesma e experimenta a vida como um passeio político, criativo e livre. Um passeio encantado pelo mundo da subjetividade que possibilita perceber todos os tons sem dualismos constitutivos, fugindo dos modelos, das dimensões da captura, deslizando suavemente em um caminho aberto a todos os estilos.
Dessa forma, assumir o poder de polícia é, para ela, algo tão natural e peculiar quanto a assunção de qualquer outra atividade. Não há enunciação de que o exercício desse poder deva adotar um padrão masculino, ao contrário, há o arroio de subjetividade, figurando como uma linha de fissura do imprevisível, a ser construído livremente.
Nesse sentido, a mulher policial, nas suas decisões, adota uma postura nômade, um nomadismo associado à possibilidade de circulação em espaços flutuantes, caracterizados por constantes modificações. Um sujeito dentro de uma multiplicidade de sujeitos percorrendo variados espaços e incorporando novos significados, para transfigurá-los em espaços de liberdade.
A complexidade da atividade policial caracterizada pela imprevisibilidade dos fatos, reclama um conhecimento estratégico, reflexivo e não representacional, com vistas à alteridade e próximo da criatividade e da autonomia humanas, proporcionando uma releitura crítica de uma sociedade sem referência significativa.
Parafraseando Luis Alberto Warat: - Amo aqueles que me permitem retirar os mecanismos de segurança dos sentidos, dos saberes, para pôr a leitura do mundo em roda livre (...). Assim é que a mulher policial, ao ler o mundo como algo em constante mutação, nos proporciona a segurança que desejamos ter: um mundo igualitário, revelador do amor, preocupado com o destino do outro, descongelado e permanentemente plástico.
Todo meu respeito e agradecimento à MULHER POLICIAL!
Eugênia Nogueira do Rêgo Monteiro Villa
Delegada de Polícia Civil do Estado do Piauí
Diretora da ACADEPOL/PI
Professora do Curso de Direito da UESPI e NOVAFAPI
WARAT, Luis Alberto. Territórios desconhecidos. A procura surrealista pelos lugares do abandono do sentido e da reconstrução da subjetividade. Fundação Boiteux, Florianópolis, 2004.